aquele mês esquisito
marcado pelo doído dia sete
e suas lembranças tão pontuais:
sábado, dia de cursinho pré-vestibular
a ligação mais absurda da vida
aquela fitinha de nossa senhora no braço
- fé, vai dar certo!
a cena da sala
mainha sem entender nada
irmãos pra todos os lados
completamente perdidos
- como assim sequestro?
ajoelhada perto da sua cama
rezando sem parar
fazendo mil promessas
- por favor, Deus!
nesse mesmo dia te liguei cedinho
queria saber se poderia me dar carona pra casa
numa conversa apressada você falou:
"me espere, Lice."
- te esperei tanto, painho.
o telefonema cruel
nenhuma reza adiantara
gritei na varanda de puro desespero
vizinhos assustados
- por quê?
choro
grito
inundando todos os cômodos
o primeiro pensamento foi aquela conversa:
"eu vi todos aqueles estudantes
indo abraçar seus pais pela aprovação
e descobri por terceiros que você também foi aprovada.
fiquei muito triste por não merecer uma comemoração"
- perdão, meu pai.
(esse é o momento que eu mais queria voltar no tempo pra mudar.
te dar essa notícia que, na minha cabeça, não significava muito
era só uma primeira fase)
casa cheia
desci comendo pipoca doce
não sei se queria estar sozinha
ou só fugir da sala onde você estaria vendo tv
chegou Erikita
- eu nem sei o que dizer
nunca saberemos ao certo, minha amiga
ajudo mainha
procura roupa
paletó?
essa calça serve
chegaram Luca e Michel
abraço e silêncio
- acredito que isso é uma provação. seguirei firme
telefone não para de tocar
fui pro meu quarto com Laine
choramos por muito tempo
completamente inconformadas
incrédulas
- ele não merecia essa morte
(ninguém merece essa morte)
adormeci
acordei no Dia dos Pais
pra enterrar o meu.
-analice araujo
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